CORONAVÍRUS À LUZ DA TEOLOGIA

 

           

O vírus que surgiu em Wuhan, na China, denominado de SARS-CoV-2 (do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus  ou síndrome respiratória aguda grave do coronavírus ou ainda covid-19,  tem trazido dúvidas e incertezas devido às calamidades, pois o mesmo tem ceifado vidas em várias partes do mundo, colocando assim, nações e governos em situações críticas, relativamente, sem saída, no sentido de não saber qual decisão certa tomar. Sem falar que automaticamente, o pavor levou as pessoas a se isolarem socialmente. Uma situação possível de ser observada é que ao contrário dos hospitais que se encontram superlotados; bancos, templos religiosos, supermercados, grandes centros comerciais nas metrópoles estão vazios. 

O coronavírus tem feito as pessoas se sentirem dentro de um “labirinto”, porque se saírem de casa, a pandemia está sujeita aumentar, caso se isolem; cedo ou tarde faltarão alimentos nas prateleiras, porque com a privação da produção econômica a fome será mais uma aliada deste vírus para destruir vidas.  Outro fator que marca o surgimento desta pandemia, até então, é a importância da ciência humana que mesmo com suas limitações tem trabalhado incansavelmente em várias partes do mundo para descobrir a cura.  

Além de tudo isso, esta pandemia vem trazendo divisões de opiniões no campo religioso, exclusivamente no cristianismo. As divergências de ideias vem competindo com as variadas teologias de denominações cristãs, podendo ser vistas em artigos, livros e sermões por meio de teólogos formais e informais, como também são largamente veiculadas nas redes sociais, adquirindo diferentes definições, tais como: um tipo de ataque de Satanás aos homens; um sinal anunciando o arrebatamento da Igreja; a Grande Tribulação e assim muitas outras especulações.

Portanto, na verdade, as interpretações sobre o coronavírus a partir da Bíblia têm sido feitas de forma tendenciosa no curso de determinadas crenças teológicas. O problema das divergências teológicas não está na Palavra de Deus, mas sim nos intérpretes que decidem o que acham o que ela deve significar.

 

 

Epidemias à luz da Bíblia e da História

O Antigo Testamento narra alguns acontecimentos de epidemias que assolavam as pessoas e as instruções de Deus para o povo daquela época . Em Levítico 13, diz que em caso de doenças transmissíveis, Deus mandou o povo se isolar. Em Números 21, registra que houve um ataque de víboras em forma de punição para o povo devido à murmuração contra Deus.

O Novo Testamento registra que havia leprosários que ficavam fora dos muros da cidade para isolamentos dos leprosos. Esses períodos eram difíceis devido à limitação do conhecimento cientifico para a produção de vacinas e até o remédio para cura.

John Lennox (2020) aborda a história das epidemias ao informar que no século II, houve a peste bubônica em todo o Império Romano. A mesma era letal ao infectar  vidas. Naquele tempo, os cristãos resolveram, na capital do império, Roma, ajudar aquelas pessoas que estavam sofrendo por causa da terrível doença. Esta peste resultou em um grande trabalho evangelístico, visto que os crentes durante aquele momento cuidavam dos infectados, além do mais pregavam o Evangelho que resultou em muita salvação para o Reino de Deus. Por outro lado, infelizmente, estes mesmos crentes que cuidavam e pregavam para as pessoas terminavam sendo contaminados e consequentemente mortos.

A solidariedade e a coragem dos cristãos fizeram com que mais tarde o Imperador Juliano escrevesse uma carta para um sacerdote pagão que não conseguia entender a atitude dos ateus (isto é, os cristãos, que eram chamados assim, por não acreditarem, nem cultuarem os deuses do panteão romano). A intriga do imperador era que ao contrário dos fiéis pagãos, os cristãos não se escondiam, nem temiam a morte quando estavam ajudando as pessoas doentes.

No século seguinte, surgiu uma terrível peste que mais tarde foi nomeada de Peste Cipriano. Esta nomeação se deu por causa do bispo Cipriano que durante este período de sofrimento procurava sempre pregar a respeito, no sentido de encorajar os irmãos a manifestarem o amor cristão no objetivo de ajudar as pessoas infectadas.

Informa Lennox, que no ano de 1527, chega à Alemanha, especificamente, em Wittenberg, cidade em que Martinho Lutero (1546-1483) morava, a peste bubônica. O monge agostiniano, em vez de se isolar e se situar em outra parte do país, na verdade, preferiu trabalhar no propósito de ensinar a Santa Palavra de Deus e incansavelmente procurou socorrer as pessoas acometidas por esta doença. O reformador chegou frisar para as autoridades civis e eclesiásticas não abandonarem seus postos de serviços e muito menos os médicos que deveriam permanecer com coragem nos hospitais para curar aquelas pessoas que estavam sendo infectadas.  Neste período, a filha de Lutero, Elizabete, veio a ser acometida pela seguinte doença e morrer.

Houve outras doenças na história classificadas de epidemia como a Peste Negra, Ebola, Gripe Espanhola etc. Agora, a civilização está se deparando com mais um inimigo invisível e extremamente terrível que é classificado de coronavírus. Certamente, as pestes que apareceram eram perigosas tanto quanto é o covid-19, porém, ao que parece, quem mais tem assombrado e deixado pânico fazendo com que as pessoas cheguem a pensar que estão em mundo de incertezas é o coronavírus.

            Portanto, as epidemias, olhando por outro lado, levaram as pessoas no tempo de Moisés a recorrer com arrependimento a Yahveh para receber o perdão e a cura. No tempo de Cristo, os leprosos deixavam os leprosários porque se encontravam com o Filho de Deus, e assim, eram curados e aqueles que reconheciam o Mestre como Salvador se arrependiam de seus pecados (Lc 17.11-19). Nos séculos II e III as epidemias resultaram na manifestação do amor ao próximo e para a salvação por meio da pregação do Evangelho feita pela comunidade cristã daquelas épocas. No tempo do reformador alemão, Lutero, a peste promoveu o amor cristão para com as pessoas e resultou na construção de hospitais para que quando chegasse outra epidemia, as cidades estavam mais equipadas para socorrer a população. Isto mostra que Deus nunca perdeu o controle da história e nada pega Ele de surpresa, mas o Soberano e Governador do universo consegue pegar o mal e transformá-lo em bem para sua glória (Gn 50.20).

 

Coronavírus à luz do juízo de Deus

O coronavírus pode ser um mal punitivo de Deus em consequência do pecado imediato dos homens? A Bíblia é bem explícita ao dizer que Jó não sofreu aquelas calamidades, como perda da sua riqueza, dos filhos, da sua saúde e da sua esposa, porque estava em pecado, pelo contrário, o texto sagrado o caracteriza como temente, justo e que sempre se desviava do mal (Jó 1.8). Baseado nisso subentende-se que nem todo sofrimento vem por causa do pecado.

Nas Escrituras Neotestamentárias, especificamente, nos Evangelhos, os discípulos perguntaram para Jesus se o homem que se encontrava cego desde nascença era devido o pecado dos pais dele. Em resposta, o Mestre também deixou claro que a cegueira do homem consistia no propósito de glorificar a Deus, e não porque os seus pais tinham pecado (Jo. 9.1-10).

Já, por outro lado, as Escrituras também mostram que o mal veio sobre o Reino Norte e o Reino o Sul fazendo de seus povos escravos em outras nações por causa de seus pecados (Jr 25.1-9), os galileus que foram mortos pelas mãos de Pilatos e com o desmoronamento da torre de Siloé não está dizendo especificamente que foi por causa dos seus pecados, mas o Mestre disse para os judeus que devido os seus pecados não estariam ausentes de punições como estas (Lc 13.1-6), a punição do Espírito Santo tirando as vidas de Ananias e Safira devido à mentira (At 5.1-10) e os crentes que morreram em Corinto por profanarem a ceia do Senhor são casos que aconteceram em forma de juízo enviado por Deus por causa do pecado imediato (1Co 11. 27-30).

O coronavírus mostra que Deus não é apenas todo amor, mas que é também todo juízo. E que Ele pune um mundo que está totalmente desiquilibrado moralmente por causa de seus prazeres imorais. Lennox registra a explicação de C.S.Lewis (1963-1898) dizendo que “o sofrimento é o alto falante de Deus para falar o quanto a raça humana está errada, se esquecendo do seu Senhor e ao mesmo tempo afrontando a sua santidade”. John Piper (2020) define o sofrimento como a trombeta de Deus para despertar um mundo totalmente egoísta. De acordo com tudo isso o coranavírus é mais um grito amoroso do Criador para acordar a sua criatura que sem Ele não pode subsistir.

 E o caso dos crentes fiéis que foram acometidos e mortos por esta pandemia? Em resposta, o coronavírus está explicando que ao mesmo tempo Deus está efetuando a sua santa justiça e soberania.  Em juízo, como já dito, Ele executa sua punição ao um mundo corrompido. Em soberania, simultaneamente, se acha realizando os seus decretos divinos no sentido de ter determinado antes da fundação do mundo a quantidade de tempo que estes crentes iriam viver na terra, pois, as Escrituras dizem que os dias de vida dos homens já estão contados e determinados por Deus (Sl 139.16).  Em suma, ao contrário daqueles que morreram sem Cristo, os cristãos genuínos irão para vida eterna com Deus.

 

Coronavírus à luz do mal moral

   Deus colocou o homem e a mulher no jardim do Éden na função de refletirem a imagem do seu Criador manifestada na subregência de governar a terra (Gn 1.26). Sobre este assunto, o livro de Salmos é mais claro ao especificar que o homem é a imagem de Deus representada na figura de um co-rei, expressa na linguagem “de honra e glória o coroaste”(Sl 8.5). Porém, algumas versões ao registrarem esta passagem (Almeida Corrigida Fiel, Nova Versão Internacional, Almeida Revista Corrigida, Almeida Edição Contemporânea, King James Atualizada e a Septuaginta) trazem em suas traduções que o homem foi feito um pouco menor do que os anjos. Por outro lado, as versões Almeida Revista Atualizada e Nova Almeida Revista Atualizada registram que o homem, na verdade, é um pouco menor do que Deus. A Bíblia Hebraica Stuttgartensia, produzida a partir do Códice Leningrado, traz claramente o substantivo plural Elohim que significa literalmente “deuses”. Porém, dentro do contexto teológico do monoteísmo indica a singularidade do termo “Deus”. Se o salmista está comentando o livro de Gênesis, o sentido lógico e original do autor é dizer que o homem é um pouco menor do que Deus, no entendimento de ser subrengente na representação do Criador, proferindo o domínio sobre a criação (Sl 8.5,6).  

 Adão ao invés de refletir a imagem de Deus, preferiu ser igual a Ele. E isso resultou em terríveis consequências, no sentido da inversão das coisas. Exemplo, o homem deixou de ser imortal para ser mortal, ao invés da criação secundária se sujeitar a ele, na verdade, se voltou contra, dificultando a sua vida; com o objetivo de fazer do trabalho algo sofrido, surgiram espinhos e cardos “e a terra da qual ele fora tirado e sobre a qual ele fora colocado, o conquistaria, quando ele fosse posto debaixo da terra na morte (Gn 3.9)” (ZUCK; MERRIL, 2009, p.34). Partindo desse pressuposto, o pecado é o mal moral que trouxe o mal físico para toda a raça humana.

A genealogia de Adão, registrada no capítulo 5 de Gênesis, é uma forma de mostrar a diferença do antes e depois do pecado.  Porquanto, todo o texto procura enfatizar sobre o tempo de vida dos descendentes do primeiro homem através da expressão “viveu e morreu”, indicando que depois do pecado a raça humana ficou sujeita ao resultado final do mal físico, a morte. Piper (2020) explica que o mal físico é o reflexo do que o mal moral fez no mundo espiritual e toda vez que o homem sofre com terríveis calamidades é a trombeta e o alto falante de Deus falando, em forma de grito, o quanto o pecado da humanidade afrontou e afronta a santidade de Yahveh.

O tema do mal, colocado em pauta, deve ser explicado em contextos diferentes. Primeiro, o problema do mal se encontra no conceito da vontade permissiva do Criador; e o segundo, no contexto da vontade determinista de Deus.

O mal, na vontade permissiva, deve ser analisado pelo contexto do livre-arbítrio, porquanto mostra que o homem foi dotado de uma vontade livre que por conta disso terminou fazendo escolhas erradas quando desobedeceu a Deus, por conseguinte, resultou na morte a toda a raça humana (Rm 5.12-19).

Já o mal, na vontade determinista de Deus, deve passar pelo contexto de juízo do Senhor, visto que Ele envia o mal contra os homens em detrimento dos seus pecados imediatos, como no caso dos exílios de Israel na Assíria, e Judá na Babilônia, por motivo da idolatria (Is 45.7).

Em última análise, se o coronavírus for visto como vontade permissiva e determinista de Deus não está errada. Pois, as Escrituras mostram claramente, que o pecado de Adão fez Deus permitir o mal físico em consequência da desobediência, como ao mesmo tempo determinou o mal em forma de juízo, expulsando-o do jardim do Éden. Sobretudo, a Bíblia também diz que os seus juízos são insondáveis e os seus caminhos são inescrutáveis, uma coisa é certa, Ele está no controle de todas as coisas (Rm 11.33-36).

 

Coronavírus à luz da escatologia

Alguns têm especulado que o coronavírius é um sinal que supostamente estará avisando a Igreja para o arrebatamento. Essa ideia do coranavírus ser visto como um sinal anunciando a volta de Cristo se encontra aparentemente, no capítulo 24 do Evangelho de Jesus Cristo, segundo escreveu Mateus. Se o texto for analisado à luz do seu contexto, se entenderá que o coronavírus ou qualquer outro mal físico, seja terremotos ou tsunamis, não expressam a ideia de anúncios para o arrebatamento.    

 Jesus disse que o fim dos tempos e a sua vinda será prenunciada por sinais (Mt 24. 6-13). Porém, no contexto imediato, também disse que sua vinda não terá aviso através de sinais (Mt 24. 42-44). Para entender o que Jesus estava dizendo, precisa-se diferenciar que tipo de vinda estava se referindo, porque a sua volta, que também é denominada de segunda vinda não é o arrebatamento.

 

“A palavra grega para “arrebatamento”, traduzida como arrebatados, é arpazo, que é traduzida na Bíblia latina (a Vulgata) como rapturô, de onde se origina a palavra arrebatamento. A palavra é usada com respeito a Paulo sendo arrebatado ao céu (2Co. 12.2-4), com respeito a Filipe sendo arrebatado corporalmente pelo Espírito e levado para outro lugar (At 8.39), e com respeito à ascensão de Cristo (Ap 12.5; cf. At 1.11). Nenhum acontecimento deste tipo, em nenhuma outa passagem, é descrito como sendo parte do retorno de Cristo para reinar sobre a terra, no fim da Tribulação (Mt 24-25; Ap 19); os santos não são levados no retorno de Cristo para reinar, mas são trazidos de volta para reinar com Ele. O conceito pré-tribulacionista de que Cristo vem nos ares e imediatamente para evitar a separação clara destes eventos” (GEISLER, 2010, p. 1003).

 

 Norman Geisler (2010) frisa ainda que o arrebatamento acontecerá em tempo de paz (ITs 5.3) e enquanto isso a segunda vinda em tempo de guerra (Ap 9.11-21). No arrebatamento, Jesus ficará nas nuvens (ITs 4.17). Por outro lado, na segunda vinda, Jesus pousará no Monte das Oliveiras (Zc 14.4). No arrebatamento, os crentes serão levados ao céu (Jo 14.3). Na segunda vinda, os crentes voltarão para a terra. No arrebatamento, Jesus virá para os seus santos (2Ts 2.1). Na segunda vinda, Ele virá com os santos (Jd 14). No arrebatamento, somente os crentes verão o Senhor (1Ts 4.17). Na segunda vinda, todas as pessoas verão o Filho do Homem nos céus (Mt 24. 30; Ap 1.7). No arrebatamento, nenhum sinal o precede (1Ts 5.1-3). Na segunda vinda, muitos sinais o precedem (Mt 24. 3,30). No arrebatamento, a Grande Tribulação se inicia. Na segunda vinda, é o Milênio que se iniciará.

Para o arrebatamento não terá sinais, porquanto, Jesus disse que sua vinda será como nos dias de Noé, as pessoas comiam, bebiam e se davam em casamento, ou seja, uma vida cotidiana e normal (Mt 24. 36-39). Entende-se que todos esses sinais estarão, na realidade, predizendo a segunda vinda de Cristo na terra para os judeus receber Jesus como o Messias libertador. Esses sinais abordados por Cristo, no Evangelho de Mateus 24, irão acontecer na Grande Tribulação (Mt. 24. 21).

Esse período de sete anos é a prova clara que mostra que o arrebatamento e a segunda vinda são eventos totalmente distintos. No sermão do Monte das Oliveiras, monte este em que Jesus retornará depois do período da Grande Tribulação (Zc. 14.4), foi justamente o lugar que Ele escolheu para falar dos sinais que são tidos como indícios para o acontecimento da sua segunda vinda para os judeus (At 1.10-12).

Geisler (2010) exemplifica os sinais ditos no capítulo 24 de Mateus, colocando em paralelo com os sinais da Tribulação descritos no livro do Apocalipse para mostrar a sua segunda vinda.

 Os cinco primeiros sinais descritos em Mt 24. 4-8, deixam bem explícito que Jesus estava se referindo à Grande Tribulação, visto que esses sinais são os princípios das dores que ocorrerão na primeira metade da Tribulação, que são os três primeiros anos e meios. Os últimos três anos e meios são as dores de parto, ilustrados por uma mulher quando está prestes a dá à luz, em que o Mestre denominou isso de “grande aflição nunca antes vista na terra” (Mt. 24.21). Não são os mesmos acontecimentos que estão sendo vistos na atualidade, mas serão assistidos no período de sete anos de maneira intensa e grandiosa.

Sinal dos Mártires (24. 9-11). Esse sinal estará prenunciando a desolação e abominação do Anticristo (Dn. 9.27). De modo que, o homem do pecado proibirá todo tipo de adoração e sacrifício dos judeus no Templo do Senhor. De certa maneira, ele também irá fazer com que a sua imagem, em forma de uma estátua, seja adorada pela nação hebraica (Dn. 9.26, 27). Portanto, muitos serão mortos por não negarem a fé em Cristo (Ap 7.14).

            Sinal dos acontecimentos cósmicos. “Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento e os poderes dos céus serão abalados. E então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem” (24.29). Sobre o que Jesus relacionou em Mateus 24. 29. João viu na Grande Tribulação: “Vi quando o Cordeiro quebrou o sexto selo. Houve um grande terremoto, o sol se tornou negro como pano de saco feito de crina, a lua ficou toda vermelha como sangue, as estrelas dos céus caíram sobre a terra, como a figueira deixa cair os seus figos verdes quando sacudida por um vento forte, e o recolheu-se como um pergaminho se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar” (Ap 6.12-14).

Sinal da inauguração da segunda vinda. “Então aparecerá no céu, o sinal do Filho do Homem. Todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens com poder e grande glória. E Ele enviará os seus anjos, com grande som de trombeta, os quais reunirão os escolhidos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mt 24. 30,31). Comparando com a inauguração da segunda vinda, expressa no livro do Apocalipse, sobre a aparição dos anjos com trombetas (Ap 8.1-11.15): “E o sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo sempre (Ap 11.15).

Então, finalmente, partindo do pressuposto de Mateus 24, o coronavírus não é um tipo de sinal que está anunciando a volta de Cristo. O problema da interpretação dos sinais, sem a análise do contexto, está fazendo com que a alguns cristãos, não todos, fiquem alertas somente quando ouve falar de acontecimentos horrendos no mundo. Mas,  na verdade, a Igreja amada está atenta diariamente, porque sabe que Cristo virá de surpresa como um ladrão, por isso ela segue a ordem dEle: “vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há vir o vosso Senhor (Mt 24.42).

 

 

CONCLUSÃO

Portanto, em detrimento de tudo que tem acontecido de ruim no mundo, guerras, mortes, fome, doenças (aparentemente incuráveis) etc. Agora com mais uma calamidade nomeada de coronavírus que está abalando continentes, tem levado mais uma vez as pessoas perguntarem se realmente Deus existe, e se existe, por que Ele permite que estas coisas horríveis aconteçam. Até mesmo o cristão quer uma explicação lógica quando algo de ruim acontece com ele e Deus não impediu (Jó 31.4). Outros já culpam a Deus por tudo que vem acontecendo no mundo. Isso não é de agora, mas vem desde o princípio, quando Eva, respondendo o seu Criador, disse que se Ele não houvesse criado a serpente, não teria comido o fruto do conhecimento do bem e do mal, semelhantemente, Adão disse que se Deus não houvesse criado Eva, não teria desobedecido à primeira Lei. (Gn 3.12,13).

Na verdade, Deus existe sim, a sua existência é definida de auto-existência, ou seja, Ele não depende de alguém para existir, mas tem vida em si mesmo. O conhecimento que Deus dá de si mesmo aos homens é por meio de revelações que se definem teologicamente de Revelação Geral e Revelação Especial.

A Revelação Geral (natural) se reporta à perfeita criação e sua organização pela qual Deus revelou a sua existência (Sl 19.1-3; Rm 1.19,20).  O exemplo mais simples para explicar o desígnio do Senhor à sua criação é a figura do relojoeiro, que ao criar o relógio também designou o seu funcionamento. Através do universo percebe-se que existe alguém que não apenas criou como designou as suas leis para o seu movimento.

Toda causa tem um efeito. É o mesmo caso do íman, da moeda e da força. Todos conseguem ver a moeda e o íman, porém, ninguém consegue enxergar a força que suga a moeda ao encontro do íman. Logo, isso não anula a existência desta força. Deus é esta causa que efetuou a criação de todas as coisas.  É verdade que o homem não vê o criador, porém, isso não significa que Ele não exista.

A Revelação Especial se define nas manifestações de Deus em meio à história que se consumou na revelação das Sagradas Escrituras e no seu mais alto nível se realizou na encarnação de Jesus Cristo.

Se Deus existe, como é possível Ele ser bom, onipotente e o mal existir? Jonas Madureira (2017) no seu livro, Inteligência Humilhada, elucida que na lógica formal da crença cristã não há contradição. “Em contra partida, a lógica ensina que há conjunções que, na verdade, formam “aparentes contradições”. Elas são chamadas de antinomias” (MADUREIRA, 2017, p. 178). A antinomia traz a ideia de que a contradição não existe, mas somente parece existir. O autor usa a física dando o exemplo de que a luz é tanto partícula quanto onda. É o mesmo caso da natureza divina e humana de Jesus. Não significa que por Jesus ser humano vai deixar de ser divino, assim, vice-versa. Ele é tanto Deus e ao mesmo tempo homem.  Partindo desse pressuposto, é possível existir um Deus bom e onipotente e o mal ainda pode existir. Isso não é contradição, mas uma antinomia. 

Em resposta àqueles que sempre procuram uma desculpa, como Adão e Eva fizeram ao colocar a culpa dos seus pecados em Deus, o Senhor através da última dispensação, o Milênio, mostrará a resposta de quem é na verdade o culpado de todas as mazelas do mundo. Deus fará isso no período milenar ao transformar o planeta no Éden novamente, quando o Diabo for solto e enganar a muitos, do mesmo modo, como enganou o primeiro Homem e a primeira mulher no princípio. E com isso mais uma vez a história se repetirá pela escolha errada dos homens (Ap 201-10). Partindo desse pressuposto, a culpa do mal não é de Jeová. A causa do mal não anula a existência de um Deus bom e onipotente, entretanto, anula o amor do homem por este Deus bom, porquanto, a raça humana usou e usa o seu livre-arbítrio meramente para escolher o mal.

Na realidade o coronavírus é somente o Senhor falando às pessoas o quanto a desordem moral vivenciada pelo mundo tem afrontado a santidade de Deus. E que Ele está com seus ouvidos atentos para escutar a oração, o choro, o lamento em arrependimento para depois pela sua riquíssima graça sarar as nações dos seus pecados (2Cr 7.14).

 

 

           

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

Bíblia Hebraica Stuttgartensia. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1997.

GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Volume 2. Pecado, Salvação, A Igreja, As últimas Coisas. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

HUNT, Dave. Quanto Tempo nos Resta? Provas Convincentes da Volta Iminente de Cristo. Porto Alegre: Obra Missionária Chamada da Meia-Noite, 1999.

LENNOX, John. Onde está Deus em um Mundo com Coronavírus? Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

MADUREIRA, Jonas. Inteligência Humilhada. São Paulo: Vida Nova, 2017.

PIPER, John. Coronavírus e Cristo. São José dos Campos: SP: Editora Fiel, 2020.

SAYÃO, Luiz. O Problema do Mal no Antigo Testamento: O Caso de Habacuque. São Paulo: Hagnos, 2012.

Septuaginta. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011.

WRIGHT N.T. Deus e a Pandemia. Uma Resposta Cristã Sobre o Coronavírus e suas Consequências. Rio Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2020.

ZUCK, B. Roy; MERRIL, H. Eugene Teologia do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

 

 

NATANAEL DIÔGO SANTOS, Pastor Auxiliar da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Coroatá- MA (Templo Central). Professor de Teologia. Cursou Grego no Seminário Teológico Martin Bucer. Autor de artigos publicados no site da CEADEMA (Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Maranhão), na Revista Obreiro Aprovado e Jornal Mensageiro da Paz da CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus). Autor do Livro Os Dois Testamentos publicado pela Editora Reflexão. Casado com Cristiane Lima M. Santos, Pai de Kevellin Caroline Lima M. Santos.