O CONCEITO DE APÓSTOLO

 

 Um dos motivos de não concordar com os restauracionistas do ministério apostólico da atualidade está pautado na falta de entendimento da história, da exegese bíblica e da teologia. Porque dentro da perspectiva histórica, exegética e teológica não há porque o motivo do ressurgimento do ministério apostólico.

Carson (2001) elucida que o substantivo grego apóstolos quer dizer “mensageiro”, é derivado do verbo grego apostello significa “eu envio”. No Novo Testamente o substantivo apóstolo traz a ideia teológica de um mensageiro especial com uma mensagem especial. Ou seja, tanto o colégio apostólico quanto Paulo, o último dos apóstolos, foram chamados para criarem e fundarem igrejas locais ao redor do mundo. Como também foram chamados para construírem os pilares da doutrina da Igreja representados na produção do Novo Testamento escrito por eles e por pessoas que estavam associados a eles.

Lopes (2017) elucida que o termo apóstolo é aplicado de duas maneiras nos textos neotestamentário.  Primeiro cujo termo é usado para um grupo restrito, os doze e Paulo. Este termo não pode ser mais aplicado a ninguém no sentido de oficio, pois, estes são os apóstolos oficiais e especiais para receber e registrar a revelação de Deus, o Novo Testamento. Segundo as Escrituras Neotestamentárias usa este termo no sentindo mais amplo, para aqueles missionários que eram “enviados” para realizarem a obra de Deus ao redor do mundo. Como Tiago, o irmão de Jesus (Gl 1.18,19; 2.9); Apolo (1Co 4. 6,9); Barnabé (At 13. 4, 14; 1Co 9.4-6); Silvano, que é o mesmo Silas, e Timóteo (1Ts 1. 1; 2.7); Andrônico e Júnias (Rm 16.7); Epafrodito (Fp 2.25; 4.18); Apóstolos das igrejas (2Co 8.23).

 Esses registros eram tidos como representantes da presença dos apóstolos nas igrejas locais. As cartas ou epístolas, gênero literário bastante usado por eles para transmitir os seus ensinos da parte do Senhor, semelhantemente servia para manter a autoridade apostólica.  À autoridade dos Evangelhos e das Epístolas não era exercida apenas para os leitores originais, que formavam a igreja do passado, no entanto, essa autoridade doutrinária divina é para ser reconhecida na Igreja seja ela no presente e no futuro. E os presbíteros, pastores, mestres estabelecidos na Igreja apostólica apenas teriam a função de administrar e ensinar as comunidades cristãs pelas quais eles estavam aos seus cuidados baseados na doutrina dos apóstolos (At 2.42).  Em conformidade por este ponto de vista não há necessidade de novos apóstolos e novas doutrinas para os dias atuais.

Portanto, baseado na autoridade do Novo Testamento tanto no passado quanto no presente e futuro, todo movimento que se levantar, em qualquer parte e época se dizendo cristão – não estiver fundamentado na doutrina dos apóstolos certamente pode ser qualquer outra coisa menos cristianismo.

 Os verdadeiros apóstolos

 

            O ministério apostólico se encerrou com a morte dos apóstolos, os doze e Paulo, e com o fechamento do cânon. Os apóstolos neotestamentário foram escolhidos para darem continuidade e encerrar a revelação uma vez iniciada pelos profetas. Isto é, eles foram designados para serem os sucessores dos profetas em detrimento deste último ministério ter sido se encerrado em João Batista (Lc 16.16).

 “A literatura intertestamentária produzida apenas pelos judeus nos séculos depois de Malaquias considerava que o ministério desses profetas encerrou-se em Malaquias. Da mesma forma, os escritores do Novo Testamento se referem aos profetas antigos como um grupo fechado e definido (cf. Mt 23. 29-31; Mc 8.28 etc.) ” (LOPES, 2016, p. 32)

 Enquanto, os profetas deram início na revelação de Deus no Antigo Testamento, do mesmo modo os apóstolos deram continuidade nesta revelação, como ao mesmo tempo a encerraram com o fechamento do cânon das Escrituras Neotestamentárias.

 Nem todos os registros neotestamentário foram escritos pelos apóstolos, mas estes documentos estavam associados com o ensinamento deles. Por exemplo, Marcos foi o interprete de Pedro ao registrar o seu Evangelho, Tiago e Judas, os irmãos de Jesus, estavam associados ao colégio apostólico, os doze, Lucas estava associado a Paulo.

 O ministério apostólico tem sido classificado para continuar e encerrar o que os profetas iniciaram. Paulo resolveu definir que a Igreja está edificada em único fundamento revelado em duas fases, no ensino dos apóstolos e no ensino dos profetas (Ef 2.20). Nicodemos (2017) informa se o substantivo apóstolo foi citado em primeira mão, indica que Paulo está mais preocupado em destacar o contexto atual pelo qual vivia o ministério apostólico, do que seguir propriamente uma linha cronológica. Na passagem de Efésios 3.5 segue o mesmo o roteiro, quando Paulo mais uma vez citou primeiro “apóstolos” em vez de “profetas”; alguns poderiam até pensar que esta revelação dada aos profetas veterotestamentário poderia estar se referindo aos profetas neotestamentário. E quando na realidade Paulo estava apenas confirmando que o ministério da vez era o ministério apostólico. Por que se Paulo estivesse preocupado com a sequência temporal, ele, na Primeira Carta aos Tessalonicenses, teria citado primeiramente os profetas do Antigo Testamento em vez de Jesus (1Ts 2.15). Portanto, assim como o ministério profético se encerrou em João Batista e o cânon das Antigas Escrituras em Malaquias, do mesmo modo se deve entender que o ministério apostólico se encerrou quando os doze e Paulo morreram. Lopes (2017) aclara que estes últimos foram designados com o papel de encerrar a revelação de Deus aos homens no fechamento do cânon do Novo Testamento. Partindo desse pressuposto, não tem a necessidade de apóstolos modernos.

 A propaganda enganosa

A mídia tem sido o principal veículo para evidenciar o ministério apostólico moderno.  O erro não está em propagar o Evangelho nas redes de comunicações nem em realizar milagres, mas o erro está nos apóstolos modernos usarem estas ferramentas midiáticas para auto se propagarem como se fossem os únicos realizadores de milagres.

A mídia tem o poder de formação de opinião e de influência muito forte. A capacidade de influência é tão forte que ela é capaz de transformar homens e mulheres comuns em ídolos. Em função da mídia, estes homens têm causado o mesmo impacto com propagandas de milagres pela qual fazem as pessoas pensarem como se os milagres só podem se realizarem por intermédio deles. Os adeptos do movimento neopentecostal ao assistirem uma reunião querem por fim a força tocar nestes homens e até mesmo levar para as suas casas lenços que estão umedecidos pelo suor do rosto deles. Portanto, isso não é outra coisa a não ser idolatria.  A forma como os supostos milagres estão sendo propagados estão causando uma sucessão ou substituição da pessoa de Cristo e da mensagem do Evangelho da cruz. Elementos relevantes que não se viam fora dos sermões e mensagens do colégio apostólico e do apóstolo Paulo.

As multidões de pessoas que se concentram de todas as partes do país para ouvir e crer naqueles movimentos, isso denota uma coisa, o analfabetismo bíblico. Nem sempre que por alguém realizar algum milagre ou profetizar seja de Deus. A Bíblia é categórica em informar que todo aquele que realiza algo em nome de Deus e ao mesmo tempo faz as pessoas servirem outros deuses, os seus ouvintes devem deixar de ouvir o tal profeta (suposto apóstolo) imediatamente (Dt 13.1-3).

As Escrituras é forma pela qual o cristão terá à luz do Evangelho para lhe esclarecer o verdadeiro propósito do Reino de Deus. Na Idade das Trevas as pessoas eram ignorantes porque não tinham acesso a Bíblia, em detrimento disso os seus líderes aproveitavam através das indulgências a vender a salvação. Através da supervalorização que a mídia tem proporcionado, os apóstolos neopentecostais conseguiram trazer de volta a Idade Média no sentido das indulgências da venda de milagres. A diferença que há entre os fiéis da Idade Média e os féis da atualidade estão no acesso a Bíblia, ao contrário aos fiéis do período medieval, o cristão da atualidade tem a Bíblia de fácil aproximação é o meio pelo qual se desmascara toda a propaganda enganosa. E se ver livre da idolatria dos deuses criados pelo poder da mídia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BULTMAN, Rudolf. Teologia do Novo Testamento. Santo André, SP: Academia Cristã, 2008.

CARSON, D.A. Os Perigos da Interpretação Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2001.

LOPES, Nicodemos, Augustus. Apóstolos. Verdade Bíblica Sobre o Apostolado. São José dos Campos, SP: Fiel, 2014.

ROBSON, Edward. Léxico Grego do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

NATANAEL DIÔGO SANTOS é Pastor Auxiliar da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Coroatá-MA (Templo Central). Professor de Teologia. Cursou Grego no Seminário Teológico Martin Bucer. Autor de Artigos Publicados no site CEADEMA (Convenção Estadual da Assembleia de Deus no Maranhão), na Revista Obreiro Aprovado e Jornal Mensageiro da Paz da CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus). Autor do Livro Os Dois Testamentos publicado pela Editora Reflexão. Casado com Cristiane Lima M. Santos, Pai de Kevellin Caroline Lima M. Santos.