O impacto do pentecostes em Éfeso
RAYDFRAN LEITE
A palavra pentecostes vem do termo grego penteeokostos, que significa quinquagésimo. No calendário judaico, o pentecostes, também chamado de festas das colheitas, era a segunda festa celebrada pelos judeus. Nela eles adoravam a Deus, lhe oferecendo as primícias da sega e dos grãos (Lv 23.17). Essa festa também ficou bastante conhecida pelos cristãos, por intermédio da narrativa de Lucas a respeito da descida do Espírito Santo, sobre os 120 discípulos que oravam com perseverança no cenáculo, pois tal evento espiritual aconteceu por divina providência, exatamente no dia de pentecostes (At 2.1-4). Passando a simbolizar para a igreja, segundo o teólogo pentecostal Donald Stamps, “o inicio da colheita de almas para Deus neste mundo”.
Ao lermos o livro de Atos dos apóstolos, observamos que seu autor usa como referencial histórico para o cumprimento da promessa da descida do Espírito Santo, o dia de pentecostes (cf. At 1.8; 2.1). Que em consonância com o etmo do termo, ocorreu precisamente cinquenta dias após a morte de Jesus na sexta feira da pascoa. Ali foram observados alguns fenômenos, tais como: um som como de um vento impetuoso e as línguas como de fogo (At 2.2,3). Sendo este, o sinal físico, e inicial do revestimento no poder do Espírito Santo (At 2.4).
Seguidamente ao derramamento do Espírito no cenáculo, o apóstolo Pedro se levanta com os onze, e erguendo a voz prega uma mensagem poderosa, explicando que o evento ocorrido, era o cumprimento da profecia vaticinada pelo profeta Joel (At 2.16,17), em que o Espírito seria derramado sobre toda a carne (Jl 2.18). Desde então, todas as ocorrências do revestimento de poder relatadas no livro de Atos, tem como evidência inicial o fenômeno das línguas (At 2.1-4; 10.45,46), às vezes também acompanhado da profecia (At 19.6). Cabe aqui, mencionarmos dois casos em que Lucas não menciona as línguas: Em Samaria (At 8.14-20), e no caso do próprio Paulo (At 9.17,18). Porém, como afirma o escritor Silas Daniel, “embora as narrativas não mencionem as línguas, elas estão inequivocamente implícitas nessas passagens, como até mesmo reconhecem os expositores bíblicos não-pentecostais, especialmente no caso dos samaritanos – situação onde a maioria esmagadora deles entendem que houve glossolalia”.
Passando-se aproximadamente 25 anos do primeiro pentecostes, o vento glorioso que soprou em Jerusalém (At 2.1-4), sopra também em Éfeso, com a chegada de Paulo em sua terceira viagem missionária (At 19.1-6). Ali ele impõe as mãos sobre alguns discípulos e o pentecostes repete-se, vejamos: “E, impondo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam. E estes eram, ao todo, uns doze homens (At 19.6,7 – BEE)”. Em Éfeso como se pode observar no texto supracitado, os discípulos foram batizados com o Espírito Santo através da imposição das mãos do apóstolo Paulo, prática que se tornou comum no novo testamento e constitui um princípio bíblico (At 8.17; 9.17-18).
A chegada de Paulo a Éfeso revela-nos seu senso de urgência na expansão do evangelho, pois encontrando alguns discípulos, indaga-os se já haviam recebido o Espírito Santo, se não vejamos: “perguntou lhes: Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes? (At 19.2a)”. Quanto a isso, a Bíblia de Estudo do Expositor faz a seguinte assertiva, “Sabemos que estes homens já estavam salvos, porque cada vez que no Livro de Atos a palavra ‘Discípulos’ é usada, refere-se às pessoas que haviam aceitado a Cristo. Paulo podia dizer que essas pessoas, embora salvas, ainda não haviam sido batizadas com o Espírito Santo”. Ou seja, a pergunta de Paulo não se referia ao recebimento do Espírito no ato da salvação. De igual modo precisamos compreender a resposta deles quando disseram: “Ao que lhe responderam: Pelo contrário, nem mesmo ouvimos que existe Espírito Santo (At 19.2b – ARA)”. Isso “não significa que não soubessem da existência do Espírito Santo, mas que não estavam conscientes de que a era do Espírito havia chegado, e que os Crentes podiam literalmente ser batizados com Ele; na Salvação, o Espírito Santo Batiza os Crentes pecadores em Cristo; no Batismo do Espírito, Jesus Batiza os Crentes no Espírito Santo (Mt 3.11)”, afirma a Bíblia do Expositor.
Os desafios que os esperavam no maior centro comercial, religioso e político da Ásia Menor eram grandes. Naqueles dias Éfeso contava com um contingente populacional de cerca de 350 mil habitantes. Os efésios eram devotos da deusa Diana ou Artemis em grego, ela era considerada a deusa da fertilidade da Ásia Menor, como se não bastasse, eles criam na ficção da sua queda do céu. O paganismo, a feitiçaria, a idolatria e a promiscuidade campeavam. Foi sabendo dessas coisas, que o apóstolo dos gentios teve o cuidado de capacitar os discípulos que ali encontrara para a obra da evangelização e pastorado. Primeiramente por meio da experiência do Batismo com Espírito Santo (At 19.6), através da imposição das mãos e a seguir com o treinamento bíblico teológico na Escola de Tirano, por espaço de dois anos (At 19.9-10). Segundo o Dr. Shedd, o Códice D, acrescenta que eles se reuniam diariamente das 11 até às 16 horas. Tal capacitação era necessária, pois somente homens revestidos do poder do Espírito Santo e fundamentados nas escrituras, teriam condições de enfrentar as oposições dos adoradores de Diana, pois logo que o evangelho pentecostal foi proclamado, as obras das trevas foram dissipadas e grandes mudanças ocorreram.
A mensagem pentecostal de Paulo conquistou judeus de mente aberta, intelectuais gentios e impactou o sistema educacional da cidade. O pentecostes em Éfeso exerceu grande impacto, os esforços concentrados trouxeram excelentes resultados, é o que veremos a seguir: Durante dois anos todos os habitantes da Ásia ouviram a palavra do Senhor (At 19.10); Deus por meio das mãos de Paulo operou milagres extraordinários (At 10.11); os enfermos foram curados e os espíritos malignos se retiraram (At 19.12); os impostores do evangelho foram envergonhados (At 19.16); veio temor sobre os habitantes e o nome do Senhor Jesus era engrandecido (At 19.17); muitos do que creram no evangelho, confessaram publicamente suas obras (At 19.18), os que praticavam artes mágicas queimaram seus livros, avaliados em 400 mil horas de trabalho (At 19.19); a palavra de Deus crescia e prevalecia (At 19.20); os fabricantes de nichos de Diana, profissão que dava muito lucro, ficaram incomodados com o impacto econômico causado pela mensagem de Paulo e dos doze discípulos, pois o lucro deles estava diminuindo, a idolatria sofreu um baque (At 19.23-26).
O adversário inconformado usou seus asseclas para tentar barrar o vertiginoso avanço da obra de Deus em Éfeso. Logo surgem as perseguições, os artífices, liderados por Demétrio mobilizaram toda cidade, e causaram grande alvoroço e tumulto para salvar seu principal negócio, a arte e o turismo, concentrados ao redor do templo de Diana, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo (At 19.29-40). Tal tumulto apesar de não conseguir destruir os efeitos do pentecostes, fez com que Paulo interrompesse a série de estudos, e partisse para a Macedônia (At 20.1). Porém ao partir, deixou uma igreja em franco crescimento, pastoreada pelo seu discípulo, o jovem pastor Timóteo (At 16.1-3; 1Tm 1.3). O Novo Comentário Bíblico do Novo Testamento afirma: “Esses cristãos continuaram não somente alcançando outros com a mensagem de Cristo, como também todos os que passavam pela cidade ou a visitavam”. A partir de Éfeso, varias igrejas se espalharam pela Ásia Menor. Inclusive a igreja de Laodiceia, que ficava na casa de Filemom.
Não podemos esquecer que o inicio dessa grande obra, teve a participação de um casal empreendedor que Paulo encontrou em Corinto, Áquila e Priscila (At 18.13). Que ao se juntar a delegação de Paulo, foram com ele para Éfeso. Ali eles ajudaram outro expoente que de igual modo deu grandiosa contribuição, estamos falando de Apolo, um grande orador natural de Alexandria. Ele era eloquente na pregação, mas a sua teologia era incompleta, Apolo aprendeu de Jesus com o nobre casal, que depois de doutriná-lo, enviaram-no a Grécia (At 18. 24-28; 1Co 3.6).
Assim concluímos, reafirmando com base no relato neotestamentário, que o impacto do pentecostes na cidade Éfeso, trouxe resultados que só a eternidade poderá nos revelar. Que o vento do Espírito continue soprando sobre os quatro cantos da terra, e que o Deus Eterno, continue usando homens impelidos pelo poder de seu Santo Espírito, assim como Paulo e outros irmão foram usados no pentecostes de Éfeso. A Deus seja a glória.
Referências bibliográficas
- Bíblia Shedd. Editor responsável Russell P. Shedd. 2.ed. São Paulo: Vida Nova; Brasilia: Sociedade Bíblica do Brasil, 1997.
- BÍBLIA DE ESTUDO do Expositor. MINISTÉRIO De Jimmy Swaggart: BATON ROUGE, LA, EUA, 2012.
- DANIEL, Silas. Línguas: evidência do batismo no Espírito. Jornal Mensageiro da Paz, Rio de Janeiro, ano 90, n. 1616, p.16, Jan. 2020.
- O Novo Comentário Bíblico – NT com recursos adicionais. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2010.
- STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
Raydfran Leite de Oliveira é pastor, professor e articulista. Graduado em Teologia, Licenciado em Pedagogia e Especialista e Educação Superior. Também coordena os trabalhos pastorais da Área 62, na Assembleia de Deus em São Luís (MA), IADESL.